MUEJERES LIBRES – AMPARO | MERCEDES | LUCÍA

 

Em 1936 a revista anarco-feminista “Mujeres Libres” foi criada na Espanha, sendo uma revista produzida por mulheres e para as mulheres trabalhadoras. Sendo o canal decomunicação e porta-voz da ‘Federação das Mujeres Libres’ tinha como objetivo proporcionar a sua libertação e emancipação. Com o nascimento da revista e a divulgação de seus artigos, foram organizados grupos para a discussão do papel da mulher na sociedade espanhola, bem como cursos de capacitação e estudo para
mulheres.

É importante ressaltar que juntamente com a revista, a organização ‘Mujeres Libres’, a Federação Anarquista Ibérica (FAI), a Federação Ibérica de Juventude Libertária e a Confederação Nacional do Trabalho (CNT), foram as principais organizações do movimento anarquista e anarcossindicalista espanhol daquele período.

O objetivo principal da criação da ‘Mujeres Libres’, foi discutir a questão feminina durante a Revolução Social que estava em curso na Espanha, onde foi reconhecida por elas que a situação das mulheres permaneciam em igualdade com homens somente em teoria, pois na prática ainda se observava as desigualdades entre homens e mulheres.

Elas questionavam e evidenciavam que a luta contra o Estado e o capitalismo não pode se desvincular da luta contra o patriarcado, que a questão feminina não se separa da perspectiva social e que da mesma forma que a emancipação dos trabalhadores acontecerá pelos próprios trabalhadores por meio de uma luta classes, a emancipação das mulheres também ocorrerá pelas próprias mulheres a partir do mesmo processo.

Assim, Amparo Poch y Gastón, Mercedes Comaposada e Lucia Sanchéz Saornil, organizaram a revista “Mujeres Livres”, intencionalmente com esse nome, para organização das mulheres concomitantemente com a Revolução Social.

Queremos realizar uma breve caracterização da vida dessas mulheres que foram importantes nomes para a luta contra a ascensão do fascismo naquele período, bem como retomar a sua contribuição e disseminação do pensamento anarquista.

Amparo Poch y Gascón
(1902-1968)

Amparo nasceu em Zaragoza, foi escritora e médica. Em 1917, quando demonstra o desejo em estudar medicina, não tem a permissão de seu pai, pois segundo o mesmo, não era profissão adequada a uma mulher, se matriculando então na ‘Escuela Normal de Maetros de Zaragoza’. Após o término dos estudos em Magistério no ano de 1922, ingressa na ‘Facultad de Medicina de Zaragoza’.

Durante esse período, Amparo já denunciava em seus artigos as situações de machismo envolvidas em sua vida acadêmica, apresentando a zombaria, falta de respeito e desprezo por parte dos homens e também a indiferença de seus professores diante dessas situações.

Em 1929, foi a segunda mulher a se graduar em Medicina. Naquela faculdade, numa turma de 97 homens. Houve a tentativa de se apagar seu histórico acadêmico pelo seu próprio pai, entretanto, essa tentativa não foi suficiente para apagar o início de sua história.

Durante o início de sua atuação profissional recebeu diversos prêmios por suas contribuições e avanços. Teve como foco de sua atuação profissional o atendimento a população pobre, principalmente de mulheres trabalhadoras e crianças.

Especializou -se em ‘Educação em Saúde e Prevenção de Doenças’, criando diretrizes e recomendações durante a gravidez e a amamentação para a redução da mortalidade infantil. Tendo em vista que até 1931, as mulheres trabalhadoras só possuiam seis semanas de repouso pós-parto e sem remuneração, muitas dessas, retornavam as suas jornadas de trabalho poucos dias após o parto, ocasionado diversas complicações de saúde posteriores.

Assim, envolvendo a saúde da mulher, Amparo escreve sobre Métodos Contraceptivos e defendeu a Questão do Aborto, evidenciando o caráter de classe envolvido nessa questão, sendo que se tratando de aborto, uma mulher trabalhadora recorre a métodos domésticos e precários, enquanto uma mulher burguesa, possui profissionais a sua disposição para atendê-la.

Uma das principais discussões de Amparo é a respeito da Sexualidade, principalmente referente ao padrão sexual, apoiado no casamento e na prostituição, legitimados pela Monogamia Feminina imposta pela sociedade, que está intrinsecamente ligadas ao Capitalismo e a Propriedade Privada.

Foi uma defensora do Amor Livre e Revolucionário, da separação e do divórcio. Produziu diversos ensaios, textos sobre as idéias anarquistas e a emancipação da mulher.

Participou da Sociedade Médica Mútua da CNT e trabalhou de 1936 a 1937 como diretora de Assistência Social no Ministério da Saúde.

Participou da construção da ‘Casa da Dona Trabajadora’, ministrando diversos cursos com a finalidade de que as mulheres que acessavam a casa pudessem ser alfabetizadas e
aprender algumas profissões.

A Mulher em defesa

Quando ela perdeu sua graciosa exuberância de lírio ereto, a mulher, estritamente monogâmica por imposição, junto com o homem essencialmente poligâmico por natureza e a sinceridade cuidadosamente mantida, percebeu um fato: a propriedade. A Casa se fechava como uma boca ansiosa e havia muito o que fazer. A realidade econômica informava a mulher, completamente ignorante do prazer ingênuo da vida primitiva, de que a casa à excluía de todas as tarefas de produção, de todas as trabalhos públicos que
dão direito à subsistência. Isto vinha a ela por meio do homem a quem prestava seus serviços privados, incluindo os sexuais, e se defendeu em sua nova posição, preocupando-se em fortalecer os laços que a ligavam ao homem.

Este homem é meu e eu sou dele, disse. A propriedade encolheu o nariz pontudo do
agiota, piscou os repugnantes olhos e todos os regimes de opressão aumentaram o
número de suas vítimas.

Foi a venda da Consciência, da Liberdade, da Espontaneidade, para irresponsabilidade e a recusa em produzir.

Revista Mujeres Libres nº3, Madrid, Julho de 1936. p. 13.
Mercedes Comaposada
(1901-1994)

 

Mercedes nasceu em Barcelona, filha de um sapateiro socialista, desde sua infância esteve mergulhada no ambiente militante.

Iniciou seu trabalho junto a uma editora como produtora cinematográfica e posteriormente integra a CNT.

Mercedes viajava como participante da CNT a procura de organizações de mulheres, que já eram participantes da CNT, da Juventude Libertária e Ateneus, que haviam criado associações culturais de mulheres, buscando anexá-las a federação, pois possuiam objetivos em comum. Assim, Mercedes sugeria que esses grupos se unissem, criando assim a “Federação Nacional das Mujeres Libres”. Dessa organização, já se inicia a produção e posteriormente a publicação da revista.

Foi pedagoga, aprendeu idiomas, digitação e matriculou-se em cursos de Direito e ministrou diversos cursos para mulheres.

Colaborou com diversos textos para a imprensa libertária em ‘Tierra y Liberdad’, ‘Tiempos Nuevos’, ‘Estudios’, ‘Umbral’ e ‘Ruta’.

A Quarta Revolução

A Quarta revolução, nossa revolução, deve integrar os avanços das precedentes. Ela tem
que compor a unidade que supere fluxo humano. Tem que ser o gerador de estímulo de outros sobreviventes. Nossa pretensão de hoje ainda é apenas uma abstração, conceitos que devem ser estruturados de uma maneira humana e realizável. 

Mas, antes de tudo, você tem que cegar o olhar fanático, fechar os olhos em êxtase, arrancá-los, se necessário, para que eles nunca mais se abram novamente, absorvidos na expectativa de episódios de cromo; para não acreditar naquela Mãe-Revolução que nos protege a todos. Não mais aparições místicas; Não mais fantasias de cafeteria. À Revolução frontal e a atitude criativa e não de espera. Nós temos que ir por Ela. Temos que começar descobrindo para poder senti-la, raciocina-la e fazê-la. Há, em suma, que criá-la sem reflexões que limitam e não irradiam nossas próprias necessidades integrais. Sem ilusões que cometam erros, coajam e paralisam. Eliminando as falsas soluções nominais, as "boas formas" ilusórias.

De agora em diante, podemos dispensar algumas como "camaradas", "igualdade" para eliminar os outros como liberdade.

Camaradas, igualdade. Camarada intelectual, camarada manual. Espírito selecionado, cultivado e espírito emputecido. Remuneração tipo x; Remuneração tipo y. 'Camarada?'... não; Eu não quero que você me chame de camarada; Eu prefiro que você me faça camarada, que você me dê o que sua posição, sua capacidade, sua sensibilidade permitiu a você e não a mim. Antes de 'Camarada' eu tenho que ser um Homem e tenho que estar ciente disso. Somente quando você e eu nos parecermos, somente quando nos encontrarmos em uma possibilidade de consciência, somente quando formos camaradas podemos nos chamar de camaradas.

Liberdade. Preconceito burguês, segundo Lênin. O preconceito burguês, com efeito, como conceito teórico quando está implícito na tarefa de uma revolução. Magnífico jogo criador se for apoiado por uma base vital: econômica, sentimental, intelectual ... Se ela nos permitir nos dar sempre como escravos, sempre, a tudo que é melhor em relação a nós mesmos.

Mercedes Comaposada
Revista Mujeres Libres, nº2 Madrid. p.5
Lucía Sanchéz Saornil
(1895 – 1970)

 

Nasceu em Madrid numa família pobre e muito jovem perdeu a mãe e o irmão. Assim, assumiu os cuidados da irmã mais nova e da casa, enquanto seu pai trabalhava na central telefônica do duque de Alba.

Mesmo sendo de uma família pobre, seu pai herda de uma tia, uma biblioteca com muitos livros, pergaminhos e folhetos, sendo essa a primeira fonte de curiosidade de Lucía nos estudos literários, levando-a a terminar os estudos iniciais em 1913.

Em 1914, inicia os estudos na ‘Academia de Belas Artes de San Francisco em Madrid’, ano em que também publica seu primeiro poema ‘Nieve‘, no Semanário ‘Avante‘. Com o passar dos anos pública em ‘Los Quijotes’ e ‘Cádiz-San Fernando‘, revistas próximas ao modernismo. Aproxima-se do movimento estético de vanguarda “ultraísmo”, que tinha enquanto proposta a regeneração e renovação da arte nas primeiras décadas do século XX.

Utilizava como pseudônimo “Luciano de San Saor”, dirigindo seus escritos a um interlocutor feminino, quebrando com o ideal feminino de objetificação e veneração. Lucia desestruturou o papel passivo incumbido às mulheres pelos próprios militantes anarquistas, quebrando estereótipos de gênero e trazendo a discussão lésbica, em um momento de criminalização, punição e censura.

Inicia seu trabalho como telefonista em 1916, onde tem os primeiros contatos com o anarquismo, bem como com a CNT e FAI, tornando-se uma das maiores impulsionadoras do movimento grevista na ‘Companhia Telefônica de Madrid’.

Participou ativamente da Luta Antifascista, organizando as coletividades operárias, camponesas e também como cronista de guerra, atuando no assalto ao “Cuartel de la Montaña”, na busca de armas.

Foi secretária de imprensa e propaganda da SIA – Solidariedad Internacional Antifascista, sendo uma organização de ajuda às vítimas do fascismo, especialmente idosos, combatentes feridos e crianças; posteriormente ocupou o cargo de secretária geral do Comitê Internacional.

A discussão do Feminismo Revolucionário, pautada por Lucía em ‘Mujeres Libres’, a respeito do papel da mulher durante o processo revolucionário, antecipou discussões que foram pautas do feminismo dos anos 1960 como a Libertação Sexual e o Amor Livre, bem como colocou em prática novas relações de Apoio Mútuo na Luta de Classes. Sua luta foi contrária ao feminismo burguês reformista propondo um anarco-feminismo, pautado no feminismo de classe, que lutava pela Revolução Social.

Se fundem as resistências

O barômetro da resistência psíquica marcou sua tensão máxima. De repente, um novo teste de
aptidão foi anunciado. O questionário era mais amplo que as outras vezes - gramática, geografia, digitação, mecanografia e outras ninharias que não deviam ser usadas - . Aquelas que não obtivessem o certificado de aptidão iriam para uma escola especial por seis meses, ao passo que seriam examinadas novamente. E não diziam o que deveriam fazer se ainda assim não recebessem o famoso certificado.

Quase simultaneamente, um acordo do Comitê Paritário foi publicado permitindo a Companhia a reduzir o número de funcionárias devido às necessidades de serviço. O relacionamento estava claro.

Naquela noite, antes do revezamento, e na frente do quadro de avisos, as garotas conversavam
fervorasamente. Pensei num momento naquelas infelizes que tinham mais de cinquenta anos e que tinham pouco mais que a educação primária, difícil de expandir em todas as escolas especiais do mundo.

- Devemos nos opor a este exame - eu disse em voz alta - Houve silêncio, algumas olharam para mim com horror - elas ainda eram as filhas do comandante aposentado -. Outras me olhavam com simpatia e determinação.

- Que devemos fazer? - disse uma voz juvenil.

Falei sem cansar da relação que o anúncio poderia ter com os acordos do 'Comitê Paritário'. Quando a campainha tocou nos chamando para nos aliviar, concordamos sobre o que deveria ser feito.
Exista uma antiga "Associação Mutualista" de telefonistas interurbanas, que em vão pretendiam à Companhia absorver ou proteger e, diante dos acontecimentos, tornou-se uma "Sociedade de Resistência"; três dias depois, mais de cem meninas foram associadas.

O anúncio do exame foi removido do quadro; mas alguns dias depois, algumas senhoras
foram realocados em outras posições, das quais tivemos que assinar um recibo.

A mim me mandaram a uma deliciosa Capital em Levante.

Lucía Sanchez Saornil
Revista Mujeres Libres, nº3, Madrid, Julho de 1936, p. 10.

 

 

Companheira D. – 18 – 03 – 2019

ANARQUISMO E IMPERIALISMO: A QUESTÃO VENEZUELANA – UMA REFLEXÃO

Não se trata aqui de caracterizar bases teóricas acerca do imperialismo para o anarquismo histórico, mas sim de contribuir (se possível) para com a discussão do espaço internacionalista e transnacional do anarquismo.

A questão venezuelana surge como uma pedra no sapato para os anarquistas de aspecto global: de um lado o Imperialismo Estadounidense e do outro um Governo Autoritário chavista; e os anarquistas vem apresentando profunda dificuldade de assumir posições que corroborem com as práticas históricas do mesmo.

Uns defendem a cooperação com o governo bolivariano de Nicolás Maduro, legitimando toda a questão chavista, contra o próprio povo, centralizadora de poderes.

Outros afirmam a posição estadounidense em favor das intervenções com o objetivo de “florescer” o suposto caráter democrático da cultura ocidental.

Os primeiro concebem a natureza chavista como caminho e resistência latino-americana ao capitalismo global. Os segundos constroem a narrativa ocidental de liberdade a partir da democracia burguesa.

Uns dizem defender a auto-determinação dos povos, e com isso acabam por defender a legitimidade de um poder centralizador e autoritário.

Outros dizem defender a libertação do povo venezuelano das garras de Maduro a partir de uma “intervenção global”, liberada pela Organização das Nações Unidas.

Os primeiros, compreendem que o Estado Venezuelano, bem como sua agitação política, detém legitimidade (conferida) para continuar no poder e seguir sua “revolução” e, por isso, Maduro seria o “eleito” para combater o capitalismo, como um “bom estadista”

Os segundos, compreendem que o Estado Venezuelano, bem como sua agitação política, não passa de um Estado repressivo e autoritário que “falhou em sua revolução” e que, dado o momento, e a geopolítica mundial, deveria se dissolver em prol de uma “liberdade” assistida pela democracia burguesa e intervenção estadounidense.

Uns dizem que a crise gerada é culpa estrita dos boicotes econômico, notícias controversas, contorcionismos conceituais, da mídia hegemômica …

Outros afirmam que a culpa se deve a burocracia chavista, da corrupção, do marxismo, do socialismo ou do poder por si só…

Uns, numa postura autoritária defendem que contra o capitalismo devemos nos apoiar sob os braços de Nicolás Maduro. Que defender Maduro é defender as escolhas do povo, e esta seria,
portanto, a garantia para vitória.

Outros, numa postura claramente liberal advogam contra o Estado Venezuelano em sua forma atual, porém, apoiados sob o manto estadounidense. Defendem que a emancipação das classes se dará a partir da absorvição do povo venezuelao ao mercado global.

E nessa briga infantil não assimilam o fato de que de um lado trata-se do Estado em sua vil forma, e do outro trata-se do Capital em seu pior estado.

De um lado o Governo.
De outro o Mercado.

Enquanto discute-se a quem ou como apoiar, a classe trabalhadora venezuelana passa fome, sede, delírios, solidões, mortes; e neste ponto abraçam-se como amigos íntimos o Estado e o Capital, o Governo Maduro e o Imperialismo Estadounidense, a “Ditadura” e o “Mercado”.

E na fome que abrem-se brechas entre os que sofrem, para além das duas opções, para repensar sua organização social, reestruturar  suas forças e restabelecer a solidariedade.

Uma brecha que constrói novos propósitos e paradigmas, novos modelos, novas ideias.

Esta, em suma, é a reflexão: não é a quem se deve apoiar, mas que qualquer apoio deve ser respaldado pela defesa, solidariedade e cooperação ao povo venezuelano que não se encontra embebido pela operação chavista nem pelo imperialismo estadounidense.

Um construção que não se encontra com a brecha, mas é ela em si mesma:

Se construirmos junto aos trabalhadores reflexões que nos levem a expandir horizontes, não iriam, então, por si próprios, impedir a invasão imperialista e, ao mesmo tempo, derrubar o governo? Não iriamos juntos, então, fortalecer nossa solidariedade e refletir sobre poder popular, a autogestão, a democracia direta e ecologia social?

Já se foi o tempo em que discutia-se a quem apoiar, só temos a classe trabalhadora e é a ela a quem devemos apoiar, porque é junto a ela, como ela, que morreremos.

Nem Imperialismo Estaodunidense!
Nem Governo Autoritário!
Nem Social Democracial Liberal!

Não a Guerra dos Ricos!
Sim a Revolução Social!

 04 – 03 – 19

POR NÓS, PELAS QUE VIRÃO, PELAS QUE JÁ NÃO MAIS ESTÃO

Trazemos para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a tradução do "Editorial" do número VII (de 13) da "Revista Mujeres Libres" que fora produzida, durante a Revolução Espanhola, entre maio de 1936 e outubro de 1938, pelo movimento "Mujeres Libres".

Não se trata mais de uma Evolução Gradual, nem de uma capacitação ou de uma consciência. Nem, tampouco, um interesse pelos problemas sociais. Nem muito menos de um briga entre capacidades masculinas e femininas. Temos dito muito vezes que a questão de independência é inseparável de sua independência econômica. Temos dito que “o lar” era, na maioria dos casos, um símbolo de escravidão. Temos suplicado a substituição de maquiagens e flertado por algo mais alegre, mais  sólido e duradouro. Temos insistido e insistiremos em uma nova orientação para as crianças. Temos afirmado que, desde que começou a luta, a mulher tem exercido uma atividade própria de seu século, que é valente e que é capaz.

Mas não se trata mais de nada disso. De nada disso nem separa nem em conjunto. Se trata de que todas as mulheres saiam sua independência, de seu “lar”, de suas próprias vidas. De que todas as mulheres sintam o instante responsável e criador. De que todas as mulheres formem unidade feminina de triunfo e progresso.

Os momentos que vamos viver são definitivos. Assinalarão qual das divergências há de ser a que se prolongue. Por sentimento, não passarão; Por razão, passaremos. Na História, na condição humana, no motivo final, que não pode ser negativo, passaremos – passemos ou não à ação -. E deste motivo vital positivo, deste constantes futuro, vamos partir. Não se trata de aumento de salários nem de direitos femininos mais ou menos reconhecidos, se não da vida futura. Da nossa intervenção ou orientação, como mulheres, na vida futura. Desde já cada mulheres de se transformar em um ser definido e definidor,  deve rejeitar as hesitações, as ignorâncias, as predileções. O fato é concreto: fascismo ou Revolução. E Revolução não significa de maneira alguma um “estar”, senão, um “ir fazendo” que transcende nossas ansiedades próprias, de nossas ilusões, e alcança a nossos filhos. Nossa vibração de hoje, nosso sucesso no arranque, formarão o núcleo do desenvolvimento futuro, da sólida e alegre existência de nossas crianças.

Não vacilem, mulheres. Envolvam a razão e o sentimento.  Prestem vossa colaboração na luta atual com toda energia e com toda urgência.

Não se tratam mais das clássicas consignas de luta. Se trata de que todas as mulheres sintam o instante responsável e criador.

Mujeres Libres

 

Socialismo Libertário – Silvia Ribeiro

A Comunidad Del Sur foi criada em 1955, no Uruguai, preconizando unir teoria e prática. Promovem uma vida em que se inclui a tomada de decisões em coletivo, a economia comum, a educação comum dos filhos e crianças e a propriedade coletiva dos meios de produção. A fazenda não somente os provém de subsistência como também é didática. Participam de aulas para aprender métodos naturais de cultivar, sem o uso de nenhum produto químico. Outro tanto sucedem com as casas de barro, madeira e cipó. O método de construção está embasado nos ranchos tradicionais de campanha e a ajuda de um arquiteto chileno e um construtor e um carpinteiro de obras alemãs. Tem também uma padaria, onde trabalham para vender, e cedem ou alugam as casas ecológicas para reuniões de organizações de bairro ou sociais. Bem como constroem uma Editora e Imprensa com distintas publicações chamada Nordan. 

Silvia Ribeiro, comprometida com as lutas anarquista, feminista e ecossocialista, expôs numa entrevista recente à Margareth Rago sua ideia do que é viver na comunidade: “A Comunidade sempre se viu como uma experiência social, baseada em alguma princípios que estão escritos (…) Para dar uma ideia, é como se existissem quatro princípios básicos: no político, nós nos definimos como socialistas libertários, no sentido em que concebemos uma estrutura política de participação na sociedade. No plano econômico, dizemos que somos comunistas no sentido real da palavra, isto quer dizer, de cada qual segundo sua capacidade, a cada qual segundo sua possibilidade, e isso tem a ver com a questão de que nós estamos contra a propriedade privada e de herença. Desde o ponto de vista social, elegemos uma forma social de tipo comunitário, que também é uma crítica a sociedade, à familía nuclear burguesa (…) A Comunidad Del Sur não tem sentido se não transforma a sociedade global, portanto, temos que fazer algo. Ela tem que ter um sentido de projeção, pode ser um modelo ou inspiração possível…Pensamos que em momentos de crises da sociedade e ao cair o socialismo autoritário (exemplos de Cuba e do Leste Europeu), as pessoas levantam a cabeça e buscam uma resposta a pergunta: “o que existe, no lugar disso?”.

01 – 03 – 2019

O ESCRITÓRIO DO CRIME

"Mais que um desabafo, um escárnio"

O ASSASINATO DOS JOVENS POBRES
O SUICIDIO DOS POBRES IDOSOS

O algoz da carne
O despelador da Alma
O Paspalho
A fúnebre derrocada brasileira

Juntos, o Paspalho, o Algoz e o Despelador, preparam a terrível e tenebrosa derrota do povo. O primeiro, em sua ignóbil agilidade politica, sua falta de capacidade de gestão, o saudosismo revanchista e retorcido da Ditadura Militar, a ignorância e ódio aos agentes minimamente progressistas, abre alas e caminhos para que se escorra o sangue. O segundo, em seu ódio ao pobre, em seu alinhamento autoritário, em sua caça aos bodes expiatórios e sua agenda de exterminio, abre as comportas das barragens de corpos. O terceiro, o dinheiro o consome, nada mais importa senão o banco e a empresa, que os trabalhadores, trabalhem mais, que os empresários ganhem mais, que os empresarios enriqueçam e que os trabalhadores pereçam na servidão, filtra esses corpos e esse sangue em empresas privadas e retorna a populacao como a água ungida.

 

O Paspalho, semi-morto, aplaude as iniciativas preparatórias para o sua própria queda. Mourão, o Rato, só nâo lhe rói os fios, porque tem três cachorros raivosos guardando o Bolsopai.

 

Moro, com seu “Pacote Anticrime” parece ter saído da série “Gotham”. Desesperado. Pronto para agir. “Eu anuncio o fim da corrupção”. E mais “eu anuncio o fim do crime”. Um típico conhecedor dos temores do povo. Pão, casa e Educação? Não. Para Moro, o povo gostaria de ver a cada minuto, na TV, UM ASSASSINATO DE UM INOCENTE POR UM POLICIAL OU MILICIANO (“né não Bolsonaro?!”) EM SEU BAIRRO. Para Moro, segurança significa dar aval para a Policia Militar de todo o Brasil a matar – sem mais, nem menos – qualquer pessoa em qualquer caso em que o assassino se sinta: confuso, ameaçado, cansado, feliz, psicologicamente afetado ou simplesmente alegue que “meu dedo escorregou e morreu mais um de 10 anos, mas fazer o que, é do trabalho”. Para Moro, organização criminosa é qualquer coisa: qualquer coisa que atente contra o controle alternativo ao do Estado Burguês.Os traficantes, desmatadores, aliciadores de paleto e gravata que ocupam cadeiras no Congresso não são um problema, mas sim o menino, a negra, o favelado. Senta-se ao lado de ladrões. E pactua pontos anticorrupção. Seus amigos, Moro, ladrões dos trabalhadores e trabalhadoras, estão no inicio do afluente que desemboca nesse rio de sangue. E para perserguir opositores, faz bem, o alinhamento com agenda da tortura, com a estratégia pífia de permitir o sigilo de documentos do governo, suas tramóias e mirabolantes tentativas de barrar com gravetos o rio de corrupcao e formidável organização miliciana do Presidente Jair Messias Bolsonaro.

Moro, com o “Pacote Anticrimes”, representa, nada mais, nada menos que o homem que condenou os trabalhadores e trabalhadoras, pobres, negros e negras, crianças, desempregados, pessoas em condições de ruas, opositores, dentre todos os ramos do socialismo, movimentos sociais e toda uma gama de militantes, ao aprofundamento agressivo das noções juridicas, eticas e morais da sociedade burguesa, permitindo (legalmente) a pena de morte, por parte de toda a força policial, que protege os patrimonios burgueses, dos mais pobres.

O Algoz da carne.
Acumula corpos.
Para depois.
Escóa-los.
E assim poder.
Acumular mais corpos.

 

Guedes, a Reforma da Previdência, e o seu afã pelo suicidio massivo de idosos e idosas. Sua paixão descontrolada pelo desemprego, pela pobreza, pela desigualdade. Guedes, o banqueiro, empresario, corrupto, ladrão e, um dos nomes mais fortes da intragável Escola de Chicago, odeia pessoas, mas ama tudo aquilo que o dinheiro puder lhe dar. Se o dinheiro puder lhe dar a felicidade de ver uma mulher brasileira trabalhando até os 80 anos (“né não, Maia?”), para que ele possa desfrutar um vinho sabor “sangué chilene”, que ela trabalhe até os 85. E mais, que ela arque com a sua saúde, com o seu transporte, com a sua educacao, com a sua segurança. Porque Guedes não quer “dar nada pra ninguém”. Os impostos, contudo, continuam aumentando.

"Mas fecha escola publica, abre escola privada. Fecha hospital publico. Abre privado. Põe catraca no parque. Muro na praia. Aumenta a tarifa desse busão."

E quem aqui tem dinheiro, nesse mundo do infernos, pra pagar a educacao dos filhos, a saude, o lazer, o transporte, a gasolina, o leite das crianças, trabalhar ate os 80 anos para no fim, se sobreviver a tudo isso, morrer pálida, triste e faminta?

Guedes, acredita que vendendo tudo pros gringl. Terá mais produtos, mais concorrência. Tera mais emprego. Tudo sera mais barato. Acredita que quanto mais trabalharmos, quanto mais nos esforcarmos, quanto mais suarmos a camiseta, e nos sacrificarmos, nós trabalhadores poderemos dar tanto dinheiro pro patrão que ele em sua magestosa boa vontade poderá contratar mais pessoas, para que nos esforcemos cada vez mais para que o patrao possa ser cada vez mais gentil, contratando mais pessoas e multiplando sua fortuna.

Enquanto nós… 6 pessoas, 10 pessoas, 14 pessoas, 22 pessoas num só lugar, macarrão com salsicha, uns vão a pé, outros de kombi, uns de bicicleta e outros desempregados amarguram sob a linha tênue entre o delírio e a fome.

Guedes acredita na benevolencia do patrão porque ele é patrão.

Ele é Chefe, Chefe dos Patrões que nos despelam. Que nos querem servindo-os para que eles nos deem graciosamente um misero pedaço simbólico do fruto de nosso próprio trabalho. Guedes quer que nós, trabalhadores e trabalhadoras, construámos os seus patrimônios, os patrimônios de suas filhos e que nossos filhos construam o de seus netos. E nós nunca poderemos desfrutar desses lugares, porque para Guedes, somos máquinas que fazemos dinheiro para os verdadeiros humanos.

E como somos máquina, para guedes não temos alma.
Somos só a essência da riqueza burguesa, uma infelicidade.

E por isso Guedes, paladino dos bancos.
É o despelador.

Aquele que retirará de nós a pele, que nos encobre e aquece e deixará somente a máquina que gerará toda a sua fortuna e o sangue que se transformará na água-morta envenenada pelo capital.

Pagar para morrer
uma morte condicionada
pela vontade
de outros.

O Paspalho, por sua vez, aplaude, fortalece e justifica.

Bolsonaro, aquele que sorri para as câmeras, posa de mito, mas teme: teme a mílicia, teme o mercado, teme o exército, teme a Igreja, teme os Gringos que o colocaram lá para abrir caminho para essa barragem de corpos e sangue do povo brasileiro escoar.

Que Moro, Guedes e Bolsonaro, no futuro sejam lembrados como assassinos.

Assassinos de trabalhadores e trabalhadores por conta do dinheiro e do poder de dominação e exploração.

 

A única alternativa é a organização e a propaganda. Ainda que soe clichê e sinistro. Ainda que como mera retórica, ainda que muitos de nós sumam, morram, se perdam: nâo existe alternativa, senão, organização em torno do Poder Popular e a propaganda, para que possamos pendurar esses crápulas

"Inimigos do povo
Cuidado."

 

 

O Companheiro R – 14 – 02 – 2019

A INSTRUÇÃO INTEGRAL – PRIMEIRA PARTE

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin
L’Égalité, n.28 - n.31 (31 de julho - 21 de outubro), 1869.

A primeira questão que devemos considerar hoje é a seguinte: a emancipação das massas trabalhadoras pode ser completa, desde que a educação que estas massas recebam seja menor do que a que será dada aos burgueses, ou enquanto houver, em geral, uma classe de qualquer tipo, numerosa ou não, mas que, por seu nascimento, será chamada para os privilégios de uma educação superior e uma instrução mais completa? Faça esta pergunta, não resolve? Não está claro que entre dois homens dotados de uma inteligência natural quase igual, aquele que saberá mais, cuja mente será ampliada pela ciência, e que, tendo entendido melhor a sequência, os fatos naturais e sociais, ou as chamadas leis da natureza e da sociedade, compreenderão mais fácil e compreensivelmente o caráter do ambiente em que se encontram, se, digamos, sentir-se-á mais livre e mais poderoso que o outro? Quem conhece mais, naturalmente, dominará aquele que menos conhecerá; e se existe primeiramente entre duas classes somente esta diferença de instrução e educação, esta diferença produziria em pouco tempo todas as outras, o mundo humano seria encontrado em seu ponto atual, isto é para dizer que seria dividido novamente em uma massa de escravos e um pequeno número de governantes, o primeiro trabalhando como hoje para o último.

Agora entendemos por que os socialistas burgueses pedem apenas instrução para o povo, um pouco mais do que eles têm agora, e que nós, os democratas socialistas, estamos pedindo instrução completa, toda instrução, tão completa quanto o poder intelectual do século, de modo que acima das massas de trabalhadores não possa haver classe que possa saber mais, e que precisamente porque ela vai saber mais, pode dominar e explorar. Os socialistas burgueses querem a manutenção de classes, cada uma das quais deve representar, segundo eles, uma função social diferente, uma, por exemplo, a ciência e o outro trabalho manual; e queremos, ao contrário, a abolição definitiva e completa das classes, a unificação da sociedade e a equalização econômica e social de todos os indivíduos humanos na Terra. Eles gostariam, enquanto os preservassem, de diminuir, amenizar e embelezar a desigualdade e a injustiça, essas bases históricas da sociedade atual, e nós,  queremos destruí-las. Portanto, é claro que nenhum acordo ou conciliação entre os socialistas burgueses e nós é possível.

Mas, será dito, e este é o argumento que muitas vezes se opõe a nós, e que os doutrinários de todas as cores o consideram um argumento irresistível, mas é impossível para toda a humanidade se dedicar à ciência; ela morreria de fome. Portanto, é necessário que, enquanto alguns estudam, outros trabalhem para produzir os objetos necessários para a vida, para si próprios primeiro, e depois para os homens que se dedicaram exclusivamente ao trabalho da inteligência; pois os homens não trabalham apenas para si mesmos; suas descobertas científicas, além de estender o espírito humano, aplicam-se à indústria e à agricultura, e em geral à vida política e social, não melhoram a condição de todos seres humanos, sem qualquer exceção? As criações artísticas não enobrecem a vida de todos?

Mas não, não mesmo. E a maior reclamação que podemos fazer para a ciência e as artes, é precisamente não espalhar os seus benefícios e não exercer uma influência salutar mais do que a uma pequena parcela da sociedade, com a exclusão, e consequentemente também em detrimento, da imensa maioria. Hoje podemos dizer que o progresso na ciência e nas artes já foi feito com tanta razão para o prodigioso desenvolvimento da indústria, do comércio,  do crédito, da riqueza social , numa palavra, nos países mais civilizados do mundo moderno. Esta riqueza é única e tende diariamente a tornar-se mais, sempre concentrada em poucas mãos e rejeitando os estratos mais baixos da classe média, a pequena burguesia, o proletariado, de modo que o desenvolvimento dessa riqueza é diretamente proporcional à crescente miséria das massas trabalhadoras. Daí resulta que o abismo, que já separa uma minoria feliz e privilegiada dos milhões de trabalhadores que o fazem viver pelo trabalho de seus braços, se abre cada vez mais e que quanto mais felizes os exploradores do trabalho popular, mais os trabalhadores ficam infelizes. Confrontado pela fabulosa opulência do grande mundo aristocrático, financeiro, comercial e industrial da Inglaterra, a  miserável situação dos trabalhadores daquele país; relemos a letra tão ingênua e tão devastadora mais recentemente escrita por um ourives inteligente e honesto de Londres, Walter Dungan, que se envenenou voluntariamente com sua esposa e seis filhos, apenas para escapar da humilhação de miséria e dores da fome, e seremos forçados a admitir que esta civilização vangloriada é, do ponto de vista material, nada mais que opressão e ruína para o povo.

O mesmo acontece com o progresso moderno na ciência e nas artes. Esses progressos são imensos! Sim, é verdade. Mas quanto mais são imensos, mais eles se tornam uma causa de escravidão intelectual e, consequentemente, material, uma causa de miséria e inferioridade para o povo; pois eles estão sempre alargando o abismo que já separa a inteligência do povo daquela das classes privilegiadas. O primeiro, do ponto de vista da capacidade natural, é hoje obviamente menos blasé, menos gasto, menos sofisticado e menos corrompido pela necessidade de defender interesses injustos e, portanto, é naturalmente mais poderoso que a inteligência burguesa; mas, por outro lado, este último tem todas as armas da ciência para ela, e essas armas são formidáveis. Acontece com frequência que um operário muito inteligente é forçado a se fechar diante de um tolo instruído que o espanca, não pelo espírito que ele não tem, mas pela instrução, da qual o trabalhador é privado, e que ele foi capaz de recebê-lo porque, enquanto a sua loucura se desenvolvia cientificamente nas escolas, o trabalho do trabalhador vestia-o, alojava-o, alimentava-o e fornecia-lhe todas as coisas necessárias, mestres e livros. em sua instrução.

O grau de ciência distribuído para cada um não é igual, mesmo na classe burguesa, sabemos muito bem. Aqui também há uma escala, determinada não pela capacidade dos indivíduos, mas pela maior ou menor riqueza do estrato social em que se originaram; por exemplo, a instrução que recebem as crianças da pequena burguesia, ligeiramente mais elevado do que os trabalhadores conseguem dar-se, é quase nula em relação comparação a que é amplamente distribuída a alta e a média burguesia. Além disso, o que vemos? A pequena burguesia, que atualmente está ligada à classe média apenas por uma ridícula vaidade de um lado e, por outro, por sua dependência dos grandes capitalistas, a maior parte encontra-se em uma situação mais infeliz e muito mais humilhante que o proletariado. Então, quando falamos das classes privilegiadas, nunca ouvimos essa pobre pequena burguesia, que, se tivesse um pouco mais de espírito e coração, não tardaria a se juntar a nós, para lutar contra a grande e a média burguesia[que] não a esmaga hoje menos do que esmaga o proletariado. E se o desenvolvimento econômico da sociedade continuasse nessa direção por mais uma década, o que nos parece impossível, ainda veríamos a maior parte da burguesia comum cair na situação da pequena burguesia primeiro, para se perder um pouco mais tarde no proletariado, sempre graças a essa concentração fatal de riqueza num número de mãos cada vez mais restritas; que teria o resultado infalível de compartilhar definitivamente o mundo social em uma pequena minoria excessivamente opulenta, erudita e dominante, e uma imensa maioria de proletários miseráveis, ignorantes e escravos

É um facto que deve atingir todas as mentes conscientes, isto é, todos aqueles que têm no coração a dignidade humana, a justiça, isto é, a liberdade de cada um na igualdade e igualdade de todos. É que todas as invenções da inteligência, todas as grandes aplicações da ciência à indústria, ao comércio e, em geral, à vida social, até agora só beneficiaram as classes privilegiadas, assim como ao poder dos Estados, esses eternos protetores de todas as desigualdades políticas e sociais, nunca às massas populares. Nós só temos que nomear as máquinas, para que cada trabalhador e todo partidário sincero da emancipação do trabalho nos dê razão. Com que força as classes privilegiadas ainda se mantém hoje, com toda a sua felicidade insolente e todos os seus prazeres iníquos, contra a tão legítima indignação da passagem populare? É por uma força que seria inerente a eles? Não, é somente pela força do estado, em que seus filhos hoje em dia preenchem, como sempre fizeram, todas as funções dominantes, e até todas as funções médias e inferiores, quanto menos trabalhadores e soldados. E o que constitui hoje todo o poder dos estados? É a ciência.

Sim, é ciência. ciência do governo, administração e ciência financeira; a ciência de cortar os rebanhos populares sem gritar muito, e quando eles começam a gritar, a ciência de impor-lhes silêncio, paciência e obediência por uma força cientificamente organizada; a ciência de enganar e dividir as massas populares, a fim de mantê-las sempre em uma ignorância salutar, de modo que elas nunca possam, ajudando umas às outras e unindo seus esforços, criar um poder capaz de derrubá-las; ciência militar acima de tudo, com todas as suas armas sofisticadas, e aqueles formidáveis ​​instrumentos de destruição que “fazem maravilhas”; finalmente, a ciência do gênio, que criou os barcos a vapor, as ferrovias e os telégrafos; as ferrovias que, utilizadas pela estratégia militar, aumentam o poder defensivo e ofensivo dos estados; e os telégrafos, que, transformando cada governo em uma Briarea de cem mil braços, dão a oportunidade de estar presente, agir e se apoderar de todos os lugares, criando as mais formidáveis ​​centralizações políticas que já existiram no mundo. 

Quem pode negar que todo o progresso da ciência, sem qualquer exceção, tenha se voltado tão somente para o aumento da riqueza das classes privilegiadas e do poder dos Estados, em detrimento do bem-estar e da liberdade das massas populares, do proletariado? Mas, será objetado, as massas trabalhadoras também não se beneficiam? Eles não são muito mais civilizados do que eram nos séculos passados?

Para isso, responderemos por uma observação de Lassalle, o célebre socialista alemão. Para julgar o progresso das massas trabalhadoras, em termos de sua emancipação política e social, não devemos comparar o seu estado intelectual no século presente com o seu estado intelectual nos séculos passados. Devemos considerar se, a partir de um determinado momento, a diferença que tinha então entre eles e as classes privilegiadas tenha sido verificada, eles progrediram na mesma medida que o último. Pois se houve igualdade nos dois respectivos progressos, a distância intelectual que os separa hoje do mundo privilegiado será a mesma; se o proletariado progride mais rapidamente e mais rapidamente que os privilegiados, essa distância tornou-se necessariamente menor; mas se, ao contrário, o progresso do trabalhador for mais lento e, portanto, menor que o das classes dominantes, no mesmo espaço de tempo, essa distância aumentará; o abismo que eles haviam se separado tornou-se mais amplo, homem privilegiado tornou-se mais poderoso, o trabalhador tornou-se mais dependente, mais servo no momento em que foi levado para começar. Se nós deixarmos, ao mesmo tempo, dois pontos diferentes, e você estiver 100 passos à frente de mim, fazendo 60, e eu apenas 30 passos por minuto, depois de uma hora ,a  distância a qual nos separa não será mais de 100, mas de 1800 passos.

Este exemplo dá uma ideia muito precisa do respectivo progresso da burguesia e do proletariado até agora. A burguesia marchou mais rápido no caminho da civilização do que os proletários, não porque a sua inteligência fosse naturalmente mais poderosa do que a dos últimos – hoje, justificadamente, poderíamos dizer o contrário -, mas porque a organização econômica e política da sociedade até então tem sido tal que somente os burgueses foram capazes de se educar, que a ciência existiu apenas para eles, que o proletariado se viu condenado a uma ignorância forçada. de modo que mesmo se ele avança – e seu progresso é inconfundível – não é graças a ela, mas apesar de si mesma.

Nos resumimos a nós mesmos. Na atual organização da sociedade, o progresso da ciência tem sido a causa da relativa ignorância do proletariado, assim como o progresso da indústria e do comércio tem sido a causa de sua relativa miséria. materiais também contribuíram para aumentar sua escravidão. O que isso resulta? É que devemos rejeitar e combater essa consciência burguesa, assim como devemos rejeitar e combater a riqueza burguesa. Combatê-los e rejeitá-los, no sentido de que, destruindo a ordem social que constitui o patrimônio de uma ou mais classes, devemos reivindicá-los como o bem comum de todos.

Esta é a tradução da primeira parte do artigo ‘A Instrução Integral” publicada por Mikhail Bakunin no jornal L’Égalité entre julho e outubro de 1869. Fora dividido em 4 partes, respectivamente, sendo a primeira parte publicada no número 28, ao dia 31 de julho, e as outras partes nos número 29, 30 e 31, sendo a última ao dia 21 de outubro de 1886.

10 de fevereiro de 2019 
Tradução: Companheiro R.

 

 

A cidade só existe para quem pode se movimentar por ela

Todo início de ano é a mesma história: Prefeitos, Governadores e Empresários sentam-se as mesas de reuniões e decidem um novo aumento da tarifa do transporte coletivo e público em milhares de cidades brasileiras. Sentam-se em suas salas regadas a champanhe caviar para decidir quem pode ou não se locomover pelas cidades. Sentam-se Prefeitos, Governadores e Empresários para fechar acordos, empréstimos, propinas, financiamentos, subsídios, projetos urbanos e doações para prósima campanha eleitoral. Decidem, na base da canetada, se a populaçao pobre e trabalhadora poderá chegar aos seus postos de trabalho, se poderão estudar, se poderão cuidar de sua saúde, se poderão ir aos locais de lazer, se poderão passear.

Decidem, como bem querem, quem fará parte da cidade que consideram ser deles.

Decidem politicamente quem deverá ter lucro e quem deverá ter prejuízzo.

Todo ano inicio de ano é a mesma história: decições políticas são tomadas para que o Empresário lucre, o Estado cresça e a trabalhadora, sem mais nem menos, pague pelo luxo desses crápulos.

Todo ano é a mesma história e 2019 não seria diferente.

Todo ano, prefeitos, governadores e empresário anunciam aumentos da tarifa do transporte público e coletivo em milhares de cidades do Brasil. E em todos anos, considerando os anos atípicos e os não-atípicos, saímos às ruas contra mais um abuso (como se a existência de uma tarifa já fosse o bastante), contra mais uma imposição do Estado e do Capital que exclui mihares de pessoas diariamente da possibilidade de viver suas vidas.

Todo ano, milhares de pessoas dede mlhares de cidades de todo o território, acordam às 4h30 da manhã para pegar um ônibus lotado, caro e demorado que levará 3 horas para levá-losao trabalho, ao hospital, a praça ou a escola.

Todos os dias, milhares de trabalhadores são extorquidos no bolso, na alma e no estômago.

Nos cobram uma tarifa a qual não podemos pagar. Nos proíbem de viver dignamente impossibilitante nossa livre movimentação. e arrecam o pão da mesa das crianças para poder garantir seus privilégios.

A existência de um tarifa é uma decisão política porque somos nós que utilizamos o transporte público e coletivo e, portanto, nós que que deveríamos decidir como se deve gerir.

A existência de uma tarifa impede, príbe, cerceia, exclui e, no final das contas,mas aos poucos cada trabalhador e trabalhadoras que depende do transporte público e coletivo gerenciado pelo pior tipo de crápula das altas cúpulas dos governos e dos poços de lama do empresariado global.

Quantas vezes no ano nós não deixamos de comer para uma tarifa? Quantas vezes deixamos de comprar nossos remédios para poder pegar um ônibus na volta pra casa? Quantas vezes deixamos de levar nossos filhos e filhas na escola? 

Retiram os pobres do centro da cidade, jogam-nos para as periferias, proibem que voltemos e, se tentarem, os prendem e os mata. Proibem, de uma forma ou de outra que saiamos de nossos bairros e estejamos na cidade.

Uma cidade feita por cada trabalhador, mas que apenas os ricos aproveitam dela.

Aumentar a tarifa é decisão política.

Bem como a existência dela é projeto de poder.

Decidem quem pode e quem não pode. Decidem, como querem, quem terá o benefício e quem terá o ônus. Decidem, que a cidade é dos ricos, e as trincheiras renegadas é o nosso lugar.

Todos os anos em milhares de cidades em todo o Brasil a tarifa aumenta, pessoas são excluídas e os ricos ficam mais ricos.

Todos os anos, e não poderia ser diferente em 2019, milhares de pessoas saem às ruas denunciando esse projeto de poder, essa decisão política, que apenas gera lucro aos empresários e morte cega ao trabalhador.

É necessário, portanto, fazer a defesa e irmos Às ruas – pois bem, e continuar nela – contra o aumento das tarifas e em busca da autogestão e organização popular do sistema de transportes.

Enquanto existirem tarifas e catracas, existirá exclusão. Enquanto existirem tarifas e catracas, existirá denúncia, luta e muita resistência.

O mundo, que saibam os ricos, não tem fronteiras e não será pela existência de muros, catracas, tarifas, fuzis, tanques, e nem bombas nucleares, que será barrada a vitória da Revolução Social e da destruição deste sistema funesto de dominação.

Que saibam os ricos, Prefeitos, Governadores e Empresários:

Que a cada aumento da tarifa há alguém que denunciará e saíra às ruas contra este auso. Que pulará catracas! e que botará fogo em todas elas! .

Que saibam os ricos, Prefeitos, Governadores e Empresários: que nenhuma catraca ou tarifa poderá existir legitimamente enquanto houver gente que lute contra elas.

Que lute por uma vida se catracas até todos os trabalhadores e trabalhadoras, estudantes, desempregadas, idosos, etc. possam desfrutar de uma cidade que, de fato, pertence a eles.

Porque nenhuma fronteira do mundo pode barrar a Revolução Social!

Contra o aumento da tarifa!

Por uma vida sem catracas!

Até a última arder em chamas

Que divulguemos a luta dos nosso companheiros e companheiras. Que informemos aos nossos vizinhos e vizinho sobre o funcionamento abusivo do nosso sistema de transporte.

Nenhuma tarifa a mais!

Nenhum trabalhador a menos!

Fevereiro, 06 de outubro de 2019.

O Presidente-Submisso, o Economista-Banqueiro, e o Filósofo-Elitista

O que os três têm em comum?

O primeiro, Jair Messias Bolsonaro, o Presidente-Submisso, que não sabe o que fala, não sabe o que faz, não sabe com quem anda, que não sabe em quem confia. O Paladino anti-corrupção. Um Presidente-Submisso que é entreguista, desinformado e descontrolado.. Mas sabe de uma coisa: que o Brasil precisa mudar, e como disse em sua aparição em Davos no Fórum Econômico Mundial, que o Brasil tá de portas abertas para qualquer entidade que queira adentrar solo brasileiro com seus produtos e seu dinheiro; que seu objetivo é privatizar, privatizar e privatizar. Para Bolsonaro, lugar de pobre é onde der pra encaixar, onde mandarem colocar, onde for melhor esconder. Onde seus chefes não os vejam.

O Segundo, Paulo Guedes, o Economista-Banqueiro, o “posto Ipiranga”, o “Chicago Boy”, o ultraliberal que aproximou-se de Bolsonaro. Que sabe muito bem o que quer, sabe os amigos que tem, e que conseguiu um cachorrinho de estimação para aprovar seus planos econômicos. Dono de Banco, Fundador do Instituto de Pesquisa. Guedes, o menino-Chile, só pensa em uma coisa, no momento: “Como pode privatizar tudo? Cobrar cada vez mais impostos e fazer a população viver à míngua?”, e as respostas não são difíceis de encontrar: é só tomar um presidente”. Para Guedes, lugar de pobre é em trabalho intermitente, sem garantias, sem direitos, sem previdência, sem nada: se deixar, tu fica até sem salário. Para Guedes, o importante é que as ações cresçam para que seu bolso cresça também.

O Terceiro, Ricardo Vélez, o Filósofo Elitista, anticomunista amigo pessoal de Olavo de Carvalho, empresário, favorável a Escola Sem Partido, menino de prédio e totalmente desvairado. O importante é que a educação seja privatizada e, não somente, que esteja reservada para elites intelectuais, principalmente as universidades. Lugar de pobre, para Vélez, é morto, pobre, burro e fodido. Para Vélez, pobre não estuda, só trabalha e muito menos na universidade. Para Vélez, lugar de pobre é uma caixa sem educação, sem cultura e sem lazer.

O ÚLTIMO PRETENDE DESESTRUTURAR TODO O SISTEMA DE EDUCAÇÃO NO BRASIL

O SEGUNDO PRETENDE CRIAR AS FÓRMULAS E CONEXÕES EMPRESARIAIS.

O PRIMEIRO PRETENDE ASSINAR E ACENAR.

 

Jair, Paulo e Ricardo, três inimigos da povo brasileiro.

O primeiro contra as liberdades.

O segundo contra as oportunidades.

O terceiro contra a educação.

 

Mas nós não podemos deixar que isso ocorra. Não podemos deixar que as universidades sejam reservadas, nem emprestadas, nem vendidas nem nada. Nós não podemos deixar que os planos de Vélez sejam modelados por Guedes e assinados por Bolsonaro.

O Presidente-Submisso, o Economista-Banqueiro, e o Filósofo-Elitista.

O que os três tem em comum?

Eles são contra o povo.

E eles devem ser combatidos.

Universidade para todos ou Paz para ninguém!

 

INIMIGOS DA EDUCAÇÃO, CUIDADO!

Porque nenhum fronteira do mundo pode barrar a Revolução Social

30 de janeiro de 2019 – Companheiro R.

 

 

Por Uma Ecologia Social

Não é possível, atualmente, considerar os problemas ecológicos como marginais, sem importância e até burgueses. Os dados sobre o aumento da temperatura do planeta devido a crescente taxa de gás carbônico na atmosfera – o conhecido efeito estufa -, o descobrimento de buracos na camada de ozônio, fenômeno atribuído ao uso imoderado de clorofluorcarbono, que permite a penetração das radiações ultravioletas, a contaminação da água potável, do ar, dos oceanos e alimentos, a extensa eliminação de florestas pelas chuvas acidas e cortes indiscriminados, a disseminação de material radioativo ao longo da cadeia alimentar…Tudo isso proporcionou a ecologia uma importância que jamais teve no passado. A sociedade atual esta destruindo o planeta a níveis tais que superam a capacidade de auto-saneamento da Terra. Estamos nos aproximando do momento em que o planeta não poderá manter a espécie humana, nem as complexas formas de vida que se desenvolveram através de milhões de anos de evolução orgânica.

Frente a este cenário catastrófico, apresenta-se o risco de querermos eliminar os sintomas em vez das causas, e de que pessoas ecologicamente comprometidas pretendam soluções parciais e não respostas duradouras. O avanço dos movimentos verdes, pôr todo o mundo, confirma a existência de um novo impulso para as pessoas ocuparem-se concretamente do desastre ecológico. Porem, se torna cada vez mais clara a necessidade de algo mais fundamental do que um impulso. Ainda que seja importante deter aglomerações urbanas, uso de substancias químicas mortíferas na agricultura e industria alimentar, é necessário estar convicto de que as forcas que conduzem a sociedade para a aniquilação planetária tem suas raízes numa economia de mercantil de “crê ou morre”, num modo de produção que deve se expandir enquanto sistema competitivo. O que esta em discussão não é simples questão de moralidade, de psicologia ou de voracidade. Num mundo em que cada qual esta reduzido ao papel de comprador ou de vendedor, em que toda empresa deve se expandir dentro de um contexto econômico de aves de rapina, o crescimento ilimitado é inevitável. Adquire a inexorabilidade de uma lei física que funciona, independente das intenções individuais, das propensoes psicológicas, das considerações éticas.

Quais são as causas de nossos problemas ecológicos?

Atribuir a culpa de nossos problemas ecológicos a tecnologia, a mentalidade tecnológica ou a explosão demográfica é incoerência. A tecnologia – a má tecnologia, como os reatores nucleares – amplifica problemas existentes; porém, de per si, não os produz. O aumento da população é relativo, se é que seja um problema. Os demógrafos (os que estudam estatisticamente às populações nos seus aspectos de natalidade, migrações, mortalidade, etc.) há muito tempo já sabem que o que faz as estatísticas crescerem são a pobreza material e a ruína cultural, e não as melhores condições de vida. Na verdade não sabem quantas pessoas poderiam viver decentemente no planeta sem provocar transtornos ecológicos. Os Estados Unidos, na ultima metade do século XIX, exterminaram milhares de bisões, vastas áreas de florestas primitivas, e todo esse prejuízo aconteceu com a população inferior a cem milhões de habitantes, e com a tecnologia muito atrasada para os níveis atuais.

Na realidade, não era a tecnologia e a pressão demográfica que operavam quando aconteceu esse grande drama de exploração. A praga que afligia o continente americano era mais devastadora que uma invasão de gafanhotos. Era uma ordem social que se deveria citar em cerimoniais: capitalismo, em sua versão privada no Ocidente e em sua forma burocrática no Leste. Eufemismos como sociedade tecnológica ou sociedade industrial, termos tão confundidos na literatura ecológica contemporânea, tendem a mascarar, com expressões metafóricas, a brutal realidade de uma sociedade predatória. Com isso distraímos nossa atenção de uma economia estruturada sobre a competição.

Tecnologia e industria são representados como os protagonistas perversos desse drama, no lugar do mercado e da ilimitada acumulação de capital, que consubstanciam um sistema de crescimento (acumulação) que pôr fim deglutira toda a biosfera.

Os problemas da Hierarquia e da Dominação

Aos enormes problemas sistêmicos criados pôr essa ordem social devemos agregar os enormes problemas sistêmicos criados pela mentalidade que começou a se desenvolver muito antes do nascimento do capitalismo e que foi completamente absorvida pôr ele. Refiro-me a mentalidade estruturada em termos da hierarquia e domínio, na qual a dominação do homem pelo homem deu origem a concepção de que dominar a natureza fosse o destino e inclusive a necessidade da humanidade. O fato de que o pensamento ecológico começou a difundir a idéia de que esta concepção é perniciosa, certamente é reconfortante. Pôr outro lado, ainda não se compreendeu claramente como surgiu essa concepção, porque existe e como pode ser eliminada. Devemos explorar as origens da hierarquia social e da opressão, se quisermos encontrar uma solução para a destruição da ecologia. É fato que a hierarquia em todas as formas – domínio do ancião sobre o jovem, do homem sobre a mulher, do homem em forma de subordinação de classe, de casta, etnia ou de quaisquer outras possíveis estratificações de status social – não foi identificada como um âmbito de domínio muito mais amplo do que o domínio de classe. Esta tem sido uma das falhas cruciais do pensamento radical. Nenhuma libertação será completa, nenhuma intenção de criar uma harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza poderá jamais ter êxito enquanto não sejam erradicadas todas as hierarquias, e não só das classes, todas as formas de domínio, e não somente da exploração econômica.

A Concepção de Ecologia Social

Estas idéias constituem o núcleo essencial de minha concepção de ecologia social contidas no livro “Ecology of Freedom”. Tenho afirmado com muito cuidado o uso que faço do termo social, quando trato de questões ecológicas, para introduzir outro conceito fundamental: nenhum dos principais problemas ecológicos que enfrentamos hoje podem ser resolvidos sem uma profunda mudança social. Esta é uma idéia cujas implicações não foram plenamente assimiladas pelo movimento ecológico. Levada a conclusão lógica, significa que não se pode pensar em transformar a sociedade presente gradativamente com pequenas mudanças. Estas são freadas que podem apenas reduzir a louca velocidade com a qual a biosfera é destruída. Certamente, devemos ganhar o maior tempo que pudermos para evitar a destruição, entretanto o biocÍdio prosseguira a não ser que possamos convencer as pessoas de que é necessária uma mudança radical e que nos organizemos para tal fim. Deve-se aceitar que a atual sociedade capitalista precisa ser substituída pôr aquela que chamamos de sociedade ecológica, isto é, uma sociedade que implique nas radicais mudanças sociais indispensáveis para eliminar os abusos ecológicos.

A Sociedade Ecológica

Devemos refletir e debater profundamente sobre a natureza dessa sociedade ecológica. Ela não devera ter hierarquia, nem classes, nem o conceito de domínio sobre a natureza. Pôr isso não podemos de deixar de revalorizar os fundamentos do eco-anarquismo de Kropotkin e os grandes ideais ilumunistas (razão, liberdade, força emancipadora dos ensinamentos) levados a frente pôr Malatesta e Berniere. Os ideais humanistas que direcionaram os pensadores anarquistas de um certo tempo devem ser recuperados em sua totalidade, e transformados na forma de um humanismo ecológico que encarne uma nova racionalidade, uma nova ciência, uma nova tecnologia.

Os motivos que me levaram a acentuar os ideais iluministas libertários não foram os meus gostos e minhas predileções ideológicas. Tratam-se, na realidade, de ideais que não podem deixar de ser levados em conta pôr qualquer pessoa comprometida ecologicamente. Em todo mundo aparecem inquietantes alternativas aos movimentos ecológicos. Pôr outro lado, esta se difundindo, na América do Norte assim como na Europa, uma espécie de enfermidade espiritual, uma atitude contra iluminista. Com o nome de retorno a natureza, evocam-se atávicos irracionalismos, misticismos, religiosidades declaradamente pagas. Culto das divindades femininas, tradições paleolíticas, rituais ecológicos vão se formando em nome de uma nova espiritualidade. Esse retorno do primitivismo não é um fenomeno inócuo. Freqüentemente esta embebido de um pérfido neo-malthusianismo, que substancialmente propõe deixar morrer de fome de preferência as vítimas do Terceiro Mundo, com a finalidade de diminuir a população. A Natureza, afirmam, deve estar livre para continuar o seu curso. A fome não é causada pelos problemas agrários nem pelo saque das grandes empresas, nem pelas rivalidades imperialistas, nem pelas guerras civis nacionalistas, e sim pela superpopulação. Deste modo os problemas ecológicos são esvaziados de seu conteúdo social e reduzidos a mística interação das forcas naturais, freqüentemente com acentos racistas que cheiram a fascismo.

Por outro lado, esta em vias de construção um mito tecnocrático, segundo o qual a ciência e a engenharia resolveriam todos os males ecológicos. Como nas utopias de H.G. Welles, afirma-se que é necessária uma nova elite para planificar a solução da crise ecológica. Fala-se de exigência de maior centralização do estado que desaguaria na criação de um Mega-Estado, em paralelo com as multinacionais. E como a mitologia se tornou popular entre eco-misticos, entre os sustentadores de um primitivismo em versão ecológica, do mesmo modo e teoria sistêmica se tornou muito popular entre eco-tecnocratas, entre partidários do futurismo, em versão ecológica. Em ambos os casos, os ideais libertários do iluminismo – sua valorização da liberdade, do conhecimento, da autonomia individual – são negados pela sistemática pretensão de jogar-nos a um passado obscuro, mistificado e sinistro, ou de catapultar-nos como mísseis num futuro radiante, porem igualmente mistificante e sinistro.

A Ecologia que Defendo

A ecologia social, como a pretendo, lança mensagem que não é primitiva nem tecnocrática. Tenta definir o posto da humanidade na natureza – posto singular e extraordinário – sem cair no mundo tecnológico cavernicular, pôr um lado, e sem voar para fora do planeta com astronaves e estações orbitais de ficção cientifica. Sustento que a humanidade é parte da natureza ainda que dela difira profundamente pela capacidade que tem de pensar conceitualmente e se comunicar simbolicamente. A natureza, pôr outro lado, não é simplesmente uma cena panorâmica para ser vista passivamente através da janela. É o conjunto da evolução, a evolução em sua totalidade, precisamente como o indivíduo é sua biografia pôr completo, não uma simples soma de dados numéricos que indicam seu peso, altura, inteligência e assim sucessivamente. Os seres humanos não são apenas uma de tantas formas de vida, uma forma meramente especializada para ocupar um dos tantos nichos ecológicos do mundo natural. São seres que, pelo menos potencialmente, poderiam fazer a evolução biotica auto consciente e conscientemente dirigida. Com isso não quero afirmar que a humanidade não chegue a ter nunca um conhecimento suficiente da complexidade do mundo natural para poder tomar o timão da evolução natural e dirigi-la segundo sua vontade. Pelo contrário, minhas reflexões sobre a espontaneidade apontam para sugerir prudência nas intervenções sobre o mundo natural e sustentar que se deve modificá-lo com grande cautela. Porém, como argumentei em “Thinking Ecologically”, o que verdadeiramente nos faz únicos, singulares no esquema ecológico das coisas, e que podemos intervir na natureza com um grau de auto-consciencia e de flexibilidade desconhecidos de todas as outras espécies.

Que possamos atuar de modo criativo ou destrutivo constitui o maior problema que devemos enfrentar em toda reflexão sobre nossa interação com a natureza. Ainda que nossa potencialidade humana de dar autodireçãoo consciente seja enorme, devemos, entretanto, recordar que somos ainda sub-humanos.

Nossa espécie esta dividida antagonisticamente: pôr idade, gênero, classe, renda, etnia, etc. Falar de humanidade em termos zoológicos como fazem tantos ecologistas, inclusive tratando as pessoas como mera espécie e não como seres sociais que vivem em complexas criações institucionais e não em primitiva região selvagem, é ingenuamente absurda. Uma humanidade iluminada, junta para se aperceber de suas plenas potencialidades, em uma sociedade ecológica harmoniosa, e somente uma esperança, um dever ser e não um ser.

Como será possível conseguir as transformações que proponho? Não acredito que elas possam acontecer através do aparato estatal, isto é, um sistema parlamentar. Minha experiência com o movimento parlamentar alemão me clarificou que o parlamentarismo e moralmente daninho e corrupto. A representação dos verdes no Bundenstag confirmou, nesses últimos tempos, meus piores temores: sua maioria realista e favorável a participação da Alemanha na OTAN e sustenta uma forma eco-capitalista incompatível com qualquer aproximação radical da ecologia.

Outro dado importante: o parlamentarismo invariavelmente mina a participação popular na política, no sentido que foi atribuído a esta palavra durante séculos. Para os antigos atenienses, a palavra política significava gestão da polis (cidade) pôr parte dos cidadãos em assembléias, mulheres, estrangeiros e escravos estavam excluídos. Também é verdade que eram os cidadãos ricos os que dispunham de recursos materiais e gozavam dos privilégios negados aos cidadãos pobres.

A ecologia radical não pode ser indiferente a realidade material da vida humana, não pode ser indiferente as relações sociais nem as econômicas. O delicado equilíbrio existente entre o uso da tecnologia com finalidade de libertação e seus usos com fins destrutivos para o planeta é matéria de juízo social, porém, um juízo que vem incessantemente ofuscado quando ecologistas sui generis denunciam a tecnologia como um mal irrecuperável ou a exaltam como uma virtude indiscutível. Os místicos e tecnocratas tem uma importante característica em comum: não se detêm para examinar a fundo a questão ecológica, nem projetam a lógica para além das mais elementares e simples premissas.

Uma Nova Política

Uma nova política deveria, segundo minha opinião, implicar na criação de uma esfera publica de base extremamente participativa a nível da cidade, do povoado, da aldeia, do bairro. O capitalismo produziu tanta desestruturação dos laços comunitários quanto a devastação do mundo natural. Em ambos os casos, nos encontramos frente a simplificação das relações humanas e não humanas, sua redução as mais elementares formas interativas e comunitárias. Entretanto, onde existirem ainda laços comunitários e justamente ai que devem ser cultivados e desenvolvidos. Estudei este tipo de política comunal (repito: entendo política no sentido helênico, não no significado atual que designo com estatal) em meu livro “The Rise of Urbanization and Decline of Civilizenship” (Sierra Club, 1987). Pôr polemico que possa parecer na Europa, porém menos nos EUA, creio na possibilidade de uma confederação de municípios livres como contra poder de base que se oponha a crescente centralização pôr parte do Estado-Nação. Neste terreno, uma política ecológica e possível e coerente com uma ecologia concebida como o estudo das comunidades humanas/não humanas. A ecologia não é nada se não se ocupa da interação entre as formas de vida para construir comunidades e desenvolverem-se como comunidades.

 

Murray Bookchin

Retirado de "Coletivo de Estudos Anarquistas Domingos Passos"

Porque nenhuma fronteira do mundo pode barrar a Revolução Social