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O Novo Governo arderá nas chamas da Revolta, da Resistência e da Revolução Social.

Ao dia 01 de janeiro do novo ano que se inicia, 2019, o Brasil entra numa nova fase de sua história. O fascista-entreguista Jair Messias Bolsonaro toma posse como o 38º Presidente do Brasil, junto ao General Mourão, o vice-facho-não-decorativo. Brasília, palco do espetáculo da democracia burguesa, aparentava muito mais um foto de uma fronteira qualquer entre países do bloco capitalista e do bloco socialista durante a Guerra Fria. Espaço aéreo fechado, grades, cercas, quatro revistas, restrições de porte de comida, água, guarda-sol, câmeras. Os jornalistas, largados numa saleta, ameaçados, proibidos de cobrir o evento; censurados.

A posse, carregada de militarismo, nacionalismo, entreguismo, espiritualidade e demonstração de poder, requer dois discursos onde se falaria, no primeiro ao Congresso Nacional, e o segundo a todos e todas as trabalhadoras deste país sobre os objetivos, as conquistas, as vitórias, os agradecimentos, etc. Entretanto, nada mais do que comum, Bolsonaro utilizou destes espaços  para continuar a ameaçar, controlar, atacar e perseguir qualquer seja a pessoa que se oponha a ele. Que se oponha aos seus projetos militaristas e fanáticos, e ultraliberais do Chicago Boy, Paulo Guedes.

Bolsonaro, primeiramente, pretende reerguer a “Pátria”, essa degenerada pátria que se afunda em corrupção, irresponsabilidade econômica, criminalidade e submissão ideológica.

Para combater a submissão ideológica, Bolsonaro busca valorizando a Família, a tradição Judaico-Cristã, combatendo a Ideologia de Gênero e Conservando Valores. Sendo o poder como em seu Slogan, de Brasília para o Brasil, de Deus para Brasília: Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. Portanto, que os inimigos da Pátria tenham medo.

Que nós tenhamos medo, pois a Tradição, a Família e a Propriedade detém o poder e elegeram o Fascista Entreguista na melhorar das presepadas da Democracia Burguesa e da Social-Democracia. Para ele, bem como estampado Pavilhão Nacional, nenhum país cresce sem Ordem e sem Progresso.

Não obstante, Jair Messias Bolsonaro, para que os Cidadãos de Bem possam salvaguardar suas tradições, proteger suas famílias e sua propriedade, uma arma na mão de cada burguês branco para que ele possa combater a criminalidade. E se ele não conseguir, os policiais e as forças armadas vão dispor de todo e qualquer aparato para exterminar qualquer morador de favela, preto e pobre..

E na economia? Jair não consegue ser menos discreto: abrir ao comércio internacional, mas sem viés ideológico, desregulamentando e desburocratizando. Ampliar a destruição de matas nativas e genocídios indígenas com o agronegócio, mas em perfeita harmonia com o meio ambiente.

Desta forma, numa grande Pacto Nacional entre o FachoEntreguista e o Facho-Não-Decorativo, entre os Pilantras de Terno e entre os Canalhas de Togas, o Brasil – abençoado por Deus – poderá ser tornar uma Grande Nação.

Uma Grande Nação livre do Socialismo, guiada por Deus e gerido por Jair Messias Bolsonaro, o Honesto, que expurgará de uma vez por todas uma ideologia nefasta que dividem os brasileiros. Porém não sozinho o fará, fará junto aos seus eleitores, num Grande Movimento, para reestabelecer os padrões Éticos e Morais de um Brasil desigual, assassino e punitivista. Os padrões éticos e morais que aprofundam as perseguições aos trabalhadores e trabalhadoras mais pobres, aos homens e mulheres negras, a comunidade LGTBI+, aos militantes, socialistas,  anarquistas e revolucionários.

O Entreguista, contudo, pretende com que os interesses dos brasileiros venham em primeiro lugar. Logo abaixo da sola imperialista e sionista. Contra a corrupção  e a ideologização das crianças, do desvirtuamento dos direitos humanos e desconstrução da família, o Entreguista proporcionará à todas e todos nós a infraestrutura necessária para acabar com a ideologia que defende bandidos e leva a insegurança nas portas da casa dos trabalhadores.

Pois agora, para Jair Messias Bolsonaro, o Brasil entra numa nova fase: uma fase sem partido, sem viés ideológico, uma fase única, endurecida, do pensamento único e não divergente. A criticidade destrói famílias, é corrupta e insegura. A criticidade afunda o Brasil. E por isso, agora, necessitamos mais do que estabelecer um norte, um norte verde-amarelo com a estrela de Davi e a peruca loira.

O Brasil, portanto, estando acima de tudo e com Deus acima de todos poderá garantir os sonhos de Jair Messias Bolsonaro: uma arma na mão de cada brasileiro branco e rico para matar qualquer preto pobre por não estar dentro dos padrões éticos e morais defendidos por ele. Para poder destruir cada centímetro de terra indígena e que cada índio se torne Cidadão de Bem ou não restará dúvidas de seu extermínio. Para poder espancar e diminuir qualquer que seja a mulher que queira sair de casa para ser quem ela queira ser. Para poder proibir e assassinar mais pessoas LGBTQI+, mesmo o Brasil sendo um dos que mais faz isso. Para poder destruir o meio ambiente em prol de um desenvolvimento atrasado. Vendendo tudo para o comércio internacional para acabar com a desigualdade social. Dando fim nos investimentos públicos e privatizando tudo aquilo que lhe der na telha, tudo aquilo que Paulo Guedes, o ultraliberal, considerar lucrativo para suas próprias empresas. A ideia, do trabalhador sem direitos, sem justiça, sem comida, sem água, sem saúde, sem educação: só se puder pagar.

No dia 01 de janeiro de 2019, um novo projeto de poder se instaura no Brasil.

Um projeto de poder que tem como objetivo o (enriquecimento dos ricos e o empobrecimento dos pobres) extermínio do povo pobre. Um projeto de poder que tem como objetivo o extermínio da militância política de caráter socialista. Um projeto de poder que tem como objetivo privatizar os bens do povo.

Um projeto de poder de manutenção dos privilégios burgueses, daqueles que legislam em benefício próprio, demarcando muito bem a classe a ser favorecida.

Se inicia um novo projeto, não tão novo assim.

Um projeto que mediante a censura, a perseguição e ao ataque aos mais pobres busca destruir cada sonho e cada movimento em prol da dignidade, liberdade, emancipação, solidariedade e igualdade.

Um projeto feito pelos ricos e para os ricos com o único objetivo de submeter cada trabalhador e cada trabalhadora as vontades e interesses dos Capital e do Estado.

Com o Brasil acima de Tudo e Deus acima de Todos, Jair Messias Bolsonaro pretende, de uma vez por todas, nos transportar diretamente para o mais alto grau de desigualdade social.

O Novo Governo começa em chamas, e aos militantes revolucionários só nos resta se organizar, se solidarizar e resistir junto a classe trabalhadora contra nosso próprio extermínio.

Nenhuma fronteira do mundo poderá barrar a Revolução Social, porque carregamos em nossos corações  um mundo novo e nem o mais degenerados dos homens poderá nos impedir.

SEM PÁTRIA, SEM DEUSES, SEM PATRÕES E SEM PATRIARCADO.

O Novo Governo arderá nas chamas da Revolta, da Resistência e da Revolução Social.

 

02 de janeiro de 2019 – Companheiro R.

2019 – Um Apelo

Para um 2019 de resistência e luta, um apelo aos militantes revolucionário/as minimamente organizados/as.

Quanto de nós anarquistas (ou sindicalistas revolucionários; ou anarcossindicalistas; ou anarquistas sociais; ou socialistas libertários; ou agrupamentos autônomos; ou tendências antifascistas; ou movimentos estudantis; ou…) temos em conta do quão capilarizado é o anarquismo (;ou…) no Brasil?

Quando vos digo “Brasil” é necessaria que compreendamos o territorio brasileiro em sua totalidade. O que conhecemos, de fato, da nossa capilaridade quando longe dos centros urbanos? Do que falamos quando falamos de “organização revolucionária no Brasil” se não tratamos esse país em sua verdadeira face: interiorana, rural e campesina.

É fato que todos e todas nós sabemos sobre as tividades culturais, ações diretas, moçons de solidariedade, feiras, manifestações, ocupações, etc. que ocorrem nos grandes centros urbanos. Midiatizadas nas redes sociais, em blogs, listagens, e-mails, etc. temos (quase) total acesso as informações que percorrem os grandes centros.

É fato, também, que muitas dessas atividades ocorrem nas pequenas-cidades: reunições, atividades culturais, manifestações, agrupamentos, construções de organização, trabalho de base e tentativas frustradas de comunicação e divulgação.

Quando voz digo sobre essas tentativas frustradas, é necessário compreender que estamos intoxicados de informações que não fazem jus a realidade das pequenas-cidades.

Cidades que diferentemente das capitais ainda mantém fortemente o seu poder graças ao coronelismo, à força da Igreja Católica, dos conservadores, ruralistas, neopentecostais, latifundiários e saudosistas da Ditadura Militar.

Problemáticas que interferem diariamente em milhares de municípios do país e não fazem parte das discussões, debates, análises e notícias que circundam o meio revolucionário urbano.

Cidades do interior paulista, fluminense, gaúcho, paranaense, pernambucano, paraense, piauiense, goiano, matogrossense, mineiro, etc. Cidades que constróem trabalhos belíssimos, que modificam a cultura e o imaginário social desses locais. Locais que insistem em perseguir, punir, esquecer e restringir a liberdade de companheiros e companheiras sem nos darmos conta do se passa lá.

“Que se passa lá”?, melhor dizendo, “do que se passa aqui”. É importante, neste momento, destacar: porque nós anarquistas (;ou…) de pequenas-cidades sabemos mais sobre o que acontece nos grandes centros urbanos e não sabemos patavinas do que ocorre na cidade vizinha, com a companheira do sítio, com o companheiro da usina? O que nos falta?

Já vos disse: estamos intoxicados de informações que não contemplam a nossa realidade.

Intoxicados pela força de comunicação das médias e grandes organizações que ao se estabelecerem nas redes sociais, e-mails, listagens, blogs, etc. engolem (não propositalmente) a troca de informações entre as pequenas-cidades: que nos isolam e nos fazem acreditar que estamos sós ou que somos apenas forças desencadeadas pelo urbano; menos relevantes.

Esquecemos que fazemos atividades culturais, que elaboramos reuniões, que construpimos organização, que lutamos, manifestamos e ocupamos os espaços. Esquecemos que nossos companheiro e companheiras participam de campanhas internacionalistas, que nos solidarizamos.

Esquecemos que se o campo não luta e não produz, o centro urbano não se liberta e não come.

Precisamos de um antídoto.

Precisamos nos desintoxicar e passar a compreender a nossa realidade e divulgá-la entre nós, nos solidarizarmos entre nós anarquistas (;ou…) de cidade pequenas. Sermos solidários e menos guiados pela conjuntura urbana.

Temos que compreender que a luta que desenvolvemos no interior paranaense é muito mais próxima da nosa que desenvolvemos no interior maranhanse do que com a luta que companheiros e companheiras desenvolvem na capital paulista.

Mas só nos desintoxicaremos quando compreendermos e apoiar-nos uns aos outros, como um apelo: nos comunicarmos, darmos mais êngase ao interior; a gente.

Para um 2019 de resistência e luta, um apelo aos militantes revolucionário/as minimamente organizados/as.

Que criemos redes de comunicação interiorana! Que criemos redes de solidariedade! Que divulguemos os belíssimos trabalhos dos companheiras e companheiras!

Que compreendamos a nossa realidade e dos nossos irmãos e irmãs anarquistas (;ou…)

Que nos comuniquemos integralmente!

Que saibamos que nossa capitalidade vai além da capital!

Que somos muitos espalhados pelo Brasil e precisamos nos auxiliar, nos divulgar, nos apoiar!

 

Precisamos, para 2019, saúde, anarquia e fraternidade entre todos e todas nós que vivenciamos dioturnamente a luta das pequenas-cidades, do campo, do quilombo e da reserva.

“Porque nenhuma fronteira do mundo pode barrar a Revolução” e precisamos divulgar isso a todo o planeta.

 

Um apelo para 2019

|Comunicação|Solidariedade|Apoio mútuo|

 

Companheiro R. – 31 de dezembro de 2018

 

 

 

 

Boas Festas

 

Isabel Cerruti, uma mulher anarquista brasileira, que contribuiu com o jornal A Plebe durante quase todo o seu período de existência (durante as duas fases), também contribuiu para a formação do Centro inforamativo Feminino e da Liga Feminina Internacional, escreve no dia 26 de dezembro de 1933 o artigo “Boas Festas”, sendo apenas publicado ao dia 30 de dezembro, daquele mesmo ano, pelo jornal já citado: 

 

 

Resido no centro da cidade. E quem reside no centro da cidade, mais do que quem reside nos bairros, é que vê em abudância a dolorosa miséria dos desherdados de tudo, na sociedade presente.

Como não havia nada a fazer estive à janela a tarde do dia de natal. Via passar crianças alegres, cada qual exibindo os presentes de papai Noel… Crianças  felizes cujos pais ganham salários suficientes para honrar o tal papai Noel. E outras, quiçá, cujos pais fizeram talvez sacrifícios para presentearem os  filhinhos diletos, e vê-los sorrir ditosos ao menos uma vez por ano, nesta data alviçareira, crentes de que “nem só de pão vive o homem…”.

E é bem certo esse adágio. Como o nosso coração idealista se expande na solidariedade dessa felicidade infantil! Pois bem nos lembramos, também, de quando éramos pequeninos e a essa lembrança somos gratos aos nossos queridos pais quando nos faziam felizes presenteado-nos com um brinquedinho…

Da minha janela, absorvida nesses pensamento, além de crianças e pessoas felizes, eu vi passar também velhos maltrapilhos e crianças imundas. Dessas para os quais o papa Noel nunca se lembra. Pobres infelizes desherdados de tudo…

Duma casa, vizinha à minha, feliz, onde a criançada folgava à roda da espalhafatosa àrvore de Natal, gosando os mais lindos e custosos presentes e saborenado as mais apetitosas guloseimas, saiu correndo para a rua, a ganhar um pouco de liberdade, aproveitando-se da distração de todos, um lindo cachorrinho Lulu’, trazendo à boca uma grande fatia de bolo de Natal. Mas, por sinal, o animalzinho de estimação já estava fato demais, pois apenas chegado no passeio largou no chão a fatia de bolo, apenas mordido numa pontinha.

Pensei comigo mesma: quanto lares sem pão e quantas crianças haverá hoje que se sentiriram felizes com essa fatia de bolo que esse ser irracional bem tratado desprezou no meio da rua.

Nem bem concluí meu pensamento e vejo surgir dois garotos de uns sete a oito anos, um,  e de dez a doze anos outro, trazendo ambos à tira-colo a caixinha de engraxates, sujo, maltrapilhos e mal nutridos.

Ao avistarem a fatia de bolo atirado ao solo, atiraram-se ao mesmo tempo avidamente, disputando-o. Afinal, de bom acordo, resolveram repartí-lo e lá se foram a caminho juntos os dois, alegres pelo achado, comendo sofregamente aquela fatia de bolo amarelinho e sedutora, que o caozinho de estimação havia largado no chão, farto de alemento e gulodices.

À vista dessas coisas conjecturei comigo mesma. Para que servem a “Cruzada pró Infância”, a “Liga das Senhoras Católicas” e outras instituições quejandas que se propõem, todas, a proteger a infância e a defender-lhe o direito?…

Qual! O problema da miséria é insolúvel dentro da sociedade burguesa. Só mesmo quando os miseráveis se decidirem fazer justiça por suas mãos, estabelecendo o direito de todos trabalhar e gosar à farta o produto todo do trabalhao -: tecto, alimentação e roupa – do bom e do melhor para todos, é que a infância será de fato garantida em seus direito: insrução, alimentação, folguedos, gulodices e brinquedos, para todas sem distinção.

ISA RUTI

S. Paulo 26 – 12 – 1933

A Plebe, 30 de dezembro de 1933.

 

A MILITÂNCIA REVOLUCIONÁRIA ANARQUISTA

A história recente da Luta pela Revolução Social na Grécia tem como data de nascimento o dia 14 de Novembro de 1973. Em plena ditadura militar orquestrada por coronéis de extrema direita, militantes da esquerda clandestina ocuparam a Universidade Politécnica de Atenas e nas paredes pintaram as frases “Abaixo o Estado” e “Abaixo o Capital”. Barricadas foram erguidas nas ruas paralelas e no portão principal. Uma rádio pirata foi instalada dentro da Universidade e irradiou discursos revolucionários para todo o país durante três dias seguidos até que em 17 de Novembro, tanques do exército derrubaram o portão principal e invadiram a ocupação matando 83 estudantes – a maioria deles anarquistas.

Dois dias depois a Grécia registraria os maiores protestos violentos da história do país. A ditadura chegou a instituir uma lei marcial para tentar frear o inevitável processo de colapso do regime, que ocorreria de fato menos de dez dias depois, em 25 de Dezembro. A ditadura do coronel Papadopoulos é então golpeada pelo brigadeiro Dimitrios Ioannidis, que substitui uma ditadura por outra. Os sucessivos golpes militares que começaram em 1967 sob a justificativa de “salvar o país do comunismo” só encontrariam um fim no dia 8 de Dezembro de 1974 com a instituição da Terceira República Helênica sob a liderança do direitista Karamanlis.

Este importante evento que acabou solapando a Ditadura dos Coronéis é hoje considerado feriado nacional. Todo dia 17 de Novembro, estabelecimentos estudantis fecham suas portas e estudantes e professores — em especial anarquistas — saem às ruas em protestos que religiosamente terminam reprimidos pela polícia.

A Escola Politécnica de Atenas, que fica no bairro estudantil de Exarchia, se tornou símbolo nacional de resistência e o marco inicial do movimento anarquista grego atual. Exarchia, distrito central de Atenas, a partir de então se tornou uma “zona livre” gerida por anarquistas, comunistas e militantes libertários. O bairro é majoritariamente composto por estudantes e professores da Universidade Politécnica, bem como funcionários públicos e autônomos, que coletivamente decidem e executam seus deveres e necessidades da forma mais libertária possível. Andando pelas ruas de Exarchia, é possível vislumbrar um bairro leve, colorido e politicamente pulsante, rodeado por ocupações culturais, bibliotecas, bares e restaurantes que exalam a liberdade defendida por aqueles que frequentam aquele território livre.

 

Foi também naquele bairro que outro importante e trágico evento marcaria a história grega, quase 35 anos depois do fim da ditadura naquele país. Na noite do dia 6 de Dezembro de 2008, um jovem anarquista de 15 anos, desarmado e com headphones, foi covardemente assassinado por dois policiais. Dois tiros atingiram o coração de Alexandros Grigoropoulos, que morreu nos braços de seu melhor amigo, Nikos Romanos, também de mesma idade. Poucas horas depois a Grécia registraria novamente os maiores protestos violentos de sua história que perduraram quase que ininterruptamente até o fim daquele mês.  

Nikos Romanos ajudou a carregar o caixão de Grigoropoulos durante seu velório antes de entrar para a ilegalidade e reaparecer em 2013 na mídia grega como assaltante de bancos, membro da organização de guerrilha urbana CCF (Conspiracy of Cells of Fire), ou “Conspiração das Células de Fogo”. Nikos foi capturado e preso junto com outros dois camaradas após uma tentativa frustrada de expropriação bancária em que foram utilizados coletes à prova de bala e fuzis Kalashnikov. Nikos Romanos foi barbaramente torturado pela polícia que chegou a manipular de forma grosseira as fotos dos rostos desfigurados dos três militantes. Atacado pela mídia e julgado culpado pelo Estado, Nikos foi condenado a 15 anos de prisão em uma prisão de segurança máxima.

Exarchia, por conta desses dois importantes eventos históricos, é o principal símbolo físico do anarquismo moderno na Grécia. Entretanto ele nem sempre foi assim.

O anarquismo não é novo na Grécia e certamente não começou na Universidade Politécnica de Atenas, nem terminará em Exarchia. Apesar das opiniões diferirem, anarquistas costumam dizer que o movimento começou na cidade portuária de Patras e foi trazido através do mar Jônico por navegadores italianos em meados do século 19.

De lá para cá, a solidariedade aos imigrantes foi sempre uma forma de se respeitar o legado daqueles que trouxeram a ideologia para a Grécia. Com o enorme fluxo de imigrantes árabes e africanos que começaram a chegar no país durante os últimos anos, centros anarquistas de ajuda e cooperação a estes recém-chegados começam a pipocar em Atenas, como é o caso do Centro de Solidariedade Notara, localizado em Exarchia.

Notara foi fundada em setembro de 2015 quando cerca de 20 anarquistas e militantes de esquerda ocuparam um prédio abandonado de três andares, que pertencia ao Ministério do Trabalho. O centro Notara é anarquista, altamente ideologizado e politicamente firme. Oferece acomodação temporária aos imigrantes, bem como tratamento médico, roupas, e informações para mais de 100 refugiados que buscam ajuda todos os dias.

Centro de Solidariedade Notara

Há também inúmeros outros estabelecimentos como Notara, geridos por militantes revolucionários, espalhados pelas ruas de Exarchia e também fora dela, oferecendo serviços gratuitos como aulas de grego e inglês, serviços hospitalares, hotelaria, comida, etc. A população mais pobre e sobretudo os recém desempregados e atingidos pelas medidas de austeridade, também são atendidos nesses pontos.

Essa solidariedade, entretanto, não é exclusividade apenas dos anarquistas. Grupos de extrema-direita como o “Golden Dawn” (Aurora Dourada, partido-movimento grego de caráter ultra nacionalista) também começaram a ajudar os pobres como um instrumento de luta e propaganda; entretanto esses grupos nacionalistas, extremamente demagogos, auxiliam somente os “gregos nativos” e fecham os olhos para a população mais marginalizada.

 Os fascistas não se limitam a distribuir comida ou ajudar os menos favorecidos como forma de atuação política. A perseguição violenta e muitas vezes fatal não só contra refugiados e imigrantes, mas também contra antifascistas, é certamente o principal pilar de atuação da militância de extrema-direita na Grécia.

Enfrentamentos violentos costumam ocorrer nas ruas de Exarchia entre invasores fascistas – bem como policiais – e anarquistas que patrulham e protegem o bairro. O fascismo tornou-se uma ameaça considerável aos anarquistas e à esquerda grega em geral, principalmente depois que o Golden Dawn angariou 7% dos votos nas eleições parlamentares de 2015. O partido conta, sobretudo, com o apoio de inúmeros policiais que integram o partido e fazem o jogo sujo da direita com suas fardas e coturnos.

O auge do conflito entre fascistas e anarquistas na Grécia resultou no assassinato de dois membros do Golden Dawn em frente à um gabinete do partido, em uma ação considerada “terrorista” pelas forças fascistas e policiais.

No dia 16 de novembro, a organização “The Fighting People’s Revolutionary Powers” (ou “Forças Revolucionárias do Povo Combatente”) clamou autoria de ambos os assassinatos como sendo uma retaliação à morte de Pavlos Fyssas — também conhecido como Killah-P — , rapper antifascista envolvido no movimento anarquista de Atenas.

Pavlos morreu em setembro de 2013, esfaqueado por um grupo de neonazistas ligados ao Golden Dawn. Alguns dias depois, 20 membros do partido — incluindo seu líder Nikolaos Michaloliakos — foram presos pela polícia antiterrorista acusados de formação de quadrilha. Na casa de Michaloliakos foram encontradas armas, munições e uma quantidade considerável de dinheiro vivo.

A história de Michaloliakos acabou quando ele ganhou sua liberdade em Julho de 2015; uma sorte que Nikos Romanos não foi capaz de conseguir. Atualmente preso em uma cadeia de segurança máxima após a tentativa frustrada de assalto a banco em 2012, Nikos acabou atraindo atenção internacional para a organização clandestina pela qual militava.

A Conspiração das Células de Fogo, com a propulsão internacional ligada ao icônico caso Romanos, é sem dúvida alguma um divisor de águas no cenário anarquista na Grécia. Desconhecida da população grega até 2008, a CCF apareceu na mídia no dia 21 de Janeiro daquele ano após incendiar e explodir 11 bancos e concessionárias de carros e seguros nas cidades de Atenas e Tessalônica.

A CCF tem como ideologia o anarco-individualismo, representando a partir disso uma outra alternativa ao anarquismo grego; majoritariamente social e de massas. Rejeitando o trabalhismo e outras lutas coletivistas, a CCF se restringe em atacar diretamente as estruturas do Estado e do Capital através da propaganda pela ação, sem esperar momento propício ou ajuda externa. A Conspiração, apesar disso, se posiciona através de seus manifestos digitais sempre em solidariedade às mais diversas lutas travadas pela militância anarquista e comunista, bem como aos presos políticos da Grécia e do mundo.

No manifesto mais popular da organização, intitulado “The Sun Still Rises” ou “O Sol Ainda Há de Nascer”, conceitos como “organização revolucionária”; “grupos de intimidade”; “expropriação bancária” e “guerrilhas urbanas” são defendidos como parte de uma estratégia de subversão da ordem e do poder. Em Outubro de 2011, a organização foi classificada como terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA, após ações de repercusão internacional como o atentado à bomba no Tribunal de Atenas.

Após a prisão de Nikos, a Conspiração das Células de Fogo começou a ser atacada pela polícia anti-terrorista grega (extremamente bem equipada e treinada pelos EUA e pelo lobby de segurança da União Europeia) até que a maioria de seus membros estivessem atrás das grades, condenados a severas penas em prisões federais de segurança máxima. Apesar de fraca e atualmente desmembrada, a CCF continua resistindo a partir de pequenos grupos de afinidade espalhados pela Grécia e em especial pelas cidades de Atenas e Tessalônica, que realizam ataques esporádicos com bombas e dispostivos incendiários contra a polícia, juízes, bancos e sedes de partidos.

Resistindo ao fascismo, às forças policiais e às medidas de austeridade que atacam os mais jovens e os mais velhos, os anarquistas atualmente representam não só uma história de luta e resistência, como constituem a maior força política contra-hegemônica de toda a Grécia e quiçá do mundo.

A Grécia, outrora mãe da democracia moderna, hoje vê crescer no seio da sua sociedade um dos mais fortes grupos antissistêmicos do mundo.

A última grande revolta levada a cabo pelos anarquistas foi em 6 de dezembro de 2018, nas manifestações que lembravam os 10 anos da morte do garoto Alexandros Grigoropoulos.

Com uma sólida história, táticas diversificadas e uma surpreendente coesão organizacional, o anarquismo grego é sem dúvida alguma um dos maiores espelhos da Revolução Social para os movimentos antissistêmicos de todo o planeta.

 

Για τους Έλληνες αδελφούς,
Ζήτω ο αναρχισμός!
Ζήτω η κοινωνική επανάσταση!

Μπορεί η νεκρή μας ανάπαυση με ειρήνη.
Έτσι ώστε οι δολοφόνοι τους, να υποκύψουν στην εξέγερση

 

7 de dezembro de 2018 – Companheiro M.

 

UM VIVA […]

Aos malandros, aos moleques, aos sertanejos. Um viva aos estudantes, aos boêmios, aos vigaristas.Um viva aos miseráveis, aos pobres e desempregados. Um viva aos grevistas, aos anarquistas, aos sindicalistas e aos proletários.Um viva aos analfabetos, aos andarilhos aos guerrilheiros. Um viva aos professores, aos transsexuais, as protitutas.Um viva aos jovens, aos companheiros, as companheiras. Um viva aos encarcerados, aos torturados, aos mais cansados. Um viva aos imigrantes, aos nossos mortos…

[…]aos Revolucionários!

2017 – Companheiro R.

 

NÃO EXISTEM RAÍZES QUE APRISIONAM IDEIAS

PORQUE NENHUMA FRONTEIRA DO MUNDO PODE BARRAR A REVOLUÇÃO SOCIAL  
Considerações acerca das fronteiras, da permanência, do internacionalismo e  da comunicação independente e revolucionária

 

Independentemente de onde está: no mais baixo ou no mais alto grau da escala dos explorados pela escória burguesa, você se sente pertencente a algum lugar?

Porque ainda que tenha escolhido um lugar para morar ou ainda que tenha morado no mesmo lugar durante toda a vida, a necessidade de estar fisicamente ou virtualmente em outros lugares, com outras pessoas, ou simplesmente sabendo das coisas que irrompem em outros lugares, é fato verdadeiro na nova sociedade.  

O sentimento de pertencimento não existe.

Não existe uma raíz que nos impeça de ir ou vir, para lá ou para cá. Nem daqui nem de outro lugar .Esse é o problema. A ideia de conforto e  falsa satisfação do lugar em que estamos nos causa essa sensação de estagnação e subitamente o esquecimento do mundo.

A ideia de instalação permanente é pequena demais e é complicadíssimo viver assim.

E por mais que queiramos ir para outros lugares próximos ou distantes de onde estamos, mesmo no futuro, o sentimento é genuíno e independentemente do lugar nunca estaremos tão presos a eles que não possamos nos soltar.

É totalmente compreensível que ao mesmo tempo em que queiramos estar no mesmo lugar em que sempre estivemos, queiramos ir para outros lugares. Ir para um lugar antigo ou para o novo e desconhecido

.A certeza é que não se criam raízes porque não se quer estar em um único lugar ou porque não se consegue estar.

Mas sim por nos vermos pertencentes à todos os lugares.

Quando as pessoas se perguntam “de onde somos?” respondem assertivamente a localidade ao qual acham pertencer. Quando, na verdade, pertencemos a todos os locais pelos quais já passamos, e todos esses locais nos pertencem.

Que as raízes não criamos, mas que em toda floresta que passamos, levamos nutrientes, colhemos frutos, e polinizamos outras florestas.

Pode parecer estranho dizer que não temos raízes quando acreditamos sermos de algum lugar. Pode parecer solitário e angustiante, mas quando se entende que:  o fato de não conseguirmos estar num lugar só e tentar estar em vários lugares ao mesmo tempo, de não poder atenção exclusiva a apenas uma pessoa num mundo de milhares de histórias, não é porque não existe importâncias pontuais.

Mas é porque é preciso estar em todos os lugares,  é preciso dar um pouco de atenção a tudo. Porque o foco, o centro, a permanência e o estático são pequenos demais para nós.

Nenhum fronteira pode barrar a nossa existência, nenhuma cerca, nenhum rio, nada! Independente de onde está, no mais alto ou no mais baixo grau de explorados pelo escória burguesa, tiranos do mundo pentecostal, e dos pedófilos católicos, da mancha de sangue feminino, e dos corpos negros extirpados!

Não existem catracas ou venenos que possam nos matar.

Não importa onde estejamos, não pertencemos a lugar nenhum e por isso nossa história pertence a todo lugar.

E ela se espalhará entre aqueles e aquelas que carregam em seus corações a luta pela Revolução Social, pela Democracria Direta, pelo Mundo sem Fronteiras, pela Comunicação Livre, Independente e Revolucionária.

Não existem raízes que prendem ideias. Não temos raízes,.. E comunicaremos isso ao mundo todo.

Pela Revolução Social!

Pela força, resistência e solidariedade entre todos e todas!

Pela comunicação independente, livre e revolucionária,

Porque nenhuma fronteira do mundo pode barrar a Revolução Social

O Companheiro R. – 08-10-2018